Sabin Por: Sabin
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Em mais uma aula do curso on-line “Medicina Diagnóstica: Interação Clínico-Laboratorial”, realizado pelo Grupo Sabin com o objetivo de orientar estudantes dos últimos períodos de medicina e médicos residentes quanto à solicitação adequada de exames, foram discutidas as principais desordens funcionais causadas pela cirurgia bariátrica.

A endocrinologista Dra. Thaisa Trujilho apresentou o tema “Distúrbios metabólicos após a cirurgia bariátrica”, trazendo o cenário das possíveis complicações pós-operatórias e suas opções de tratamento.

Confira as principais informações debatidas na aula. A apresentação completa está no vídeo.

Principais distúrbios metabólicos pós-bariátrica

A bariátrica é, hoje, a opção terapêutica mais eficaz no tratamento da obesidade. Levantamento feito pelo Ministério da Saúde (MS) indica grande aumento no número de procedimentos entre 2011 e 2020. Entretanto, pacientes submetidos a essa cirurgia têm desenvolvido algumas importantes alterações fisiológicas posteriores ao procedimento.

Dra. Thaísa faz uma breve exposição sobre a cirurgia bariátrica, com dados estatísticos atuais, elencando dois dos principais distúrbios metabólicos a serem estudados: hipoglicemia e alterações ósseas. Acompanhe as explicações a seguir.

Identificando a hipoglicemia

Em definição, a hipoglicemia é a diminuição da taxa de glicose no sangue. Um paciente é considerado hipoglicêmico quando essa taxa é menor do que 70 mg/dl, conforme pode ser observado no gráfico apresentado em aula, que mostra os valores referenciais para resposta hormonal e sintomatologia da hipoglicemia.

A endocrinologista aproveita para destacar que, em situações em que a taxa for menor do que 60 mg/dl, ocorre o aumento da secreção de cortisol, ocasionando o aparecimento dos sintomas adrenérgicos. Dentre eles, sudorese, tremores, taquicardia, ansiedade, náuseas e fome. Já para taxas menores do que 50 mg/dl, as funções cognitivas sofrem alterações, resultando nos sintomas neuroglicopênicos. Nesse caso, o paciente pode apresentar confusão mental, borramento visual, sonolência, convulsão e, até mesmo, perda da consciência.

Como avaliar a hipoglicemia em pacientes bariátricos

Em geral, a hipoglicemia pós-bariátrica aparece depois de um ano da intervenção cirúrgica. Para realizar o diagnóstico, existem algumas características importantes que devem ser observadas no paciente, tais como: a baixa da glicose acontece sempre após as refeições (hipoglicemia pós-prandial); ou os sintomas melhoram com a ingestão de carboidratos. Além disso, é recomendado descartar outras causas de hipoglicemia não causadas pela cirurgia bariátrica, se o quadro ocorrer em jejum, durante a madrugada, ou se for desencadeada pela prática de atividades físicas.

Ao reduzir a capacidade do estômago, a cirurgia bariátrica acaba naturalmente gerando o aumento da velocidade do esvaziamento gástrico. Em consequência disso, a glicemia plasmática também se eleva. Para melhor compreensão, Dra. Thaisa traz o resultado de testes feitos em pacientes bariátricos, onde é possível entender bem todas as variações da glicemia pós-prandial, insulina, GLP1, glucagon e cortisol. Ela explica, ainda, sobre os critérios utilizados para fazer a investigação diagnóstica durante uma crise hipoglicêmica. Caso não seja possível confirmar o diagnóstico durante os sintomas, deve-se analisar outras possibilidades. Aqui, ela cita as possíveis situações que podem causar a hipoglicemia.

Para entender o padrão de alteração da glicose apresentado pelo paciente após a bariátrica, são realizados os testes da refeição mista. As explicações podem ser vistas na prática, durante a análise de um exame laboratorial de curva glicêmica apresentado na aula.

Tratamento da hipoglicemia

Do ponto de vista terapêutico, é preciso adotar um controle alimentar do paciente bariátrico. Algumas medidas são importantes para a modificação da dieta: evitar a ingestão de carboidratos simples; ingerir alimentos que contenham proteínas, fibras e gordura poli-insaturada; fazer avaliação do plano alimentar com base no padrão glicêmico.

Outra opção de tratamento é o uso de medicações para reduzir a glicemia, liberar a insulina ou inibir a secreção de GLP1, cujos protocolos e efeitos adversos são devidamente explanados na aula. 

Alterações ósseas causadas pela cirurgia

As alterações ósseas identificadas após a bariátrica são consequência direta da exclusão duodenal. Com a redução do estômago, o duodeno fica excluído do trato gastrointestinal, deixando de fazer a absorção de cálcio, ferro, zinco e cobre. 

Sabemos que a deficiência dessas (e outras substâncias), em especial o cálcio, influencia consideravelmente na perda de massa óssea.

A endocrinologista detalha a relação da deficiência de cálcio com a cirurgia bariátrica, evidenciando que essa deficiência é prevalente nas cirurgias do tipo bypass, em detrimento das cirurgias restritivas.

Como estabilizar as taxas de cálcio em pacientes bariátricos?

A ingestão adequada de cálcio é feita através da dieta e da suplementação com medicamentos.

Fatores que influenciam na perda de massa óssea

A cirurgia bariátrica ocasiona alguns fatores que condicionam a perda de massa óssea do paciente, sendo um deles a redução do peso corporal.

A perda de peso faz com que haja uma redução na força mecânica daquele indivíduo, causando, assim, prejuízo para os ossos. Outro fator é a redução da ingestão de proteína, o que pode gerar uma série de problemas e deficiência de nutrientes. Hábitos como o tabagismo e o uso de bebidas alcoólicas também contribuem para a alteração óssea. Aspectos como idade, gênero ou raça acabam influenciando também.

Perda das massas óssea e muscular representa aumento do risco de fraturas. Confira, no vídeo, uma análise interessante sobre esses riscos após diferentes tipos de cirurgia bariátrica.

Como é feito o acompanhamento do paciente bariátrico?

Para evitar as complicações decorrentes da cirurgia bariátrica, deve ser feito um acompanhamento médico a longo prazo, em que são avaliadas possíveis alterações e deficiências metabólicas.

No primeiro ano pós-cirurgia, é recomendado o acompanhamento no período de três em três meses. No segundo ano, o intervalo aumenta para seis meses. A frequência diminui com o passar do tempo, mas o acompanhamento deve permanecer durante toda a vida do paciente.

A massa óssea é o principal monitoramento a ser feito. Densitometrias ósseas pré e pós-cirúrgicas são importantes para medir a perda óssea e avaliar o perfil de risco. A fim de melhorar a situação da perda óssea, é indicada a suplementação de cálcio e a reposição de vitamina D. Além disso, o médico deve orientar o paciente a praticar atividades físicas moderadas para fortalecer a musculatura.

Reforçamos a importância do comprometimento médico para assistir regularmente o paciente após a cirurgia bariátrica. Os distúrbios metabólicos que aparecem depois do procedimento comprometem consideravelmente a qualidade de vida do paciente, e fazer esse controle periódico é fundamental.

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Distúrbios metabólicos após a cirurgia bariátrica; Em mais uma aula do curso on-line “Medicina Diagnóstica: Interação Clínico-Laboratorial”, realizado pelo Grupo Sabin com o objetivo de orientar estudantes dos últimos períodos de medicina e médicos residentes quanto à solicitação adequada de exames, foram discutidas as principais desordens funcionais causadas pela cirurgia bariátrica. A endocrinologista Dra. Thaisa Trujilho apresentou o tema “Distúrbios metabólicos após a cirurgia bariátrica”, trazendo o cenário das possíveis complicações pós-operatórias e suas opções de tratamento. Confira as principais informações debatidas na aula. A apresentação completa está no vídeo. Principais distúrbios metabólicos pós-bariátrica A bariátrica é, hoje, a opção terapêutica mais eficaz no tratamento da obesidade. Levantamento feito pelo Ministério da Saúde (MS) indica grande aumento no número de procedimentos entre 2011 e 2020. Entretanto, pacientes submetidos a essa cirurgia têm desenvolvido algumas importantes alterações fisiológicas posteriores ao procedimento. Dra. Thaísa faz uma breve exposição sobre a cirurgia bariátrica, com dados estatísticos atuais, elencando dois dos principais distúrbios metabólicos a serem estudados: hipoglicemia e alterações ósseas. Acompanhe as explicações a seguir. Identificando a hipoglicemia Em definição, a hipoglicemia é a diminuição da taxa de glicose no sangue. Um paciente é considerado hipoglicêmico quando essa taxa é menor do que 70 mg/dl, conforme pode ser observado no gráfico apresentado em aula, que mostra os valores referenciais para resposta hormonal e sintomatologia da hipoglicemia. A endocrinologista aproveita para destacar que, em situações em que a taxa for menor do que 60 mg/dl, ocorre o aumento da secreção de cortisol, ocasionando o aparecimento dos sintomas adrenérgicos. Dentre eles, sudorese, tremores, taquicardia, ansiedade, náuseas e fome. Já para taxas menores do que 50 mg/dl, as funções cognitivas sofrem alterações, resultando nos sintomas neuroglicopênicos. Nesse caso, o paciente pode apresentar confusão mental, borramento visual, sonolência, convulsão e, até mesmo, perda da consciência. Como avaliar a hipoglicemia em pacientes bariátricos Em geral, a hipoglicemia pós-bariátrica aparece depois de um ano da intervenção cirúrgica. Para realizar o diagnóstico, existem algumas características importantes que devem ser observadas no paciente, tais como: a baixa da glicose acontece sempre após as refeições (hipoglicemia pós-prandial); ou os sintomas melhoram com a ingestão de carboidratos. Além disso, é recomendado descartar outras causas de hipoglicemia não causadas pela cirurgia bariátrica, se o quadro ocorrer em jejum, durante a madrugada, ou se for desencadeada pela prática de atividades físicas. Ao reduzir a capacidade do estômago, a cirurgia bariátrica acaba naturalmente gerando o aumento da velocidade do esvaziamento gástrico. Em consequência disso, a glicemia plasmática também se eleva. Para melhor compreensão, Dra. Thaisa traz o resultado de testes feitos em pacientes bariátricos, onde é possível entender bem todas as variações da glicemia pós-prandial, insulina, GLP1, glucagon e cortisol. Ela explica, ainda, sobre os critérios utilizados para fazer a investigação diagnóstica durante uma crise hipoglicêmica. Caso não seja possível confirmar o diagnóstico durante os sintomas, deve-se analisar outras possibilidades. Aqui, ela cita as possíveis situações que podem causar a hipoglicemia. Para entender o padrão de alteração da glicose apresentado pelo paciente após a bariátrica, são realizados os testes da refeição mista. As explicações podem ser vistas na prática, durante a análise de um exame laboratorial de curva glicêmica apresentado na aula. Tratamento da hipoglicemia Do ponto de vista terapêutico, é preciso adotar um controle alimentar do paciente bariátrico. Algumas medidas são importantes para a modificação da dieta: evitar a ingestão de carboidratos simples; ingerir alimentos que contenham proteínas, fibras e gordura poli-insaturada; fazer avaliação do plano alimentar com base no padrão glicêmico. Outra opção de tratamento é o uso de medicações para reduzir a glicemia, liberar a insulina ou inibir a secreção de GLP1, cujos protocolos e efeitos adversos são devidamente explanados na aula.  Alterações ósseas causadas pela cirurgia As alterações ósseas identificadas após a bariátrica são consequência direta da exclusão duodenal. Com a redução do estômago, o duodeno fica excluído do trato gastrointestinal, deixando de fazer a absorção de cálcio, ferro, zinco e cobre.  Sabemos que a deficiência dessas (e outras substâncias), em especial o cálcio, influencia consideravelmente na perda de massa óssea. A endocrinologista detalha a relação da deficiência de cálcio com a cirurgia bariátrica, evidenciando que essa deficiência é prevalente nas cirurgias do tipo bypass, em detrimento das cirurgias restritivas. Como estabilizar as taxas de cálcio em pacientes bariátricos? A ingestão adequada de cálcio é feita através da dieta e da suplementação com medicamentos. Fatores que influenciam na perda de massa óssea A cirurgia bariátrica ocasiona alguns fatores que condicionam a perda de massa óssea do paciente, sendo um deles a redução do peso corporal. A perda de peso faz com que haja uma redução na força mecânica daquele indivíduo, causando, assim, prejuízo para os ossos. Outro fator é a redução da ingestão de proteína, o que pode gerar uma série de problemas e deficiência de nutrientes. Hábitos como o tabagismo e o uso de bebidas alcoólicas também contribuem para a alteração óssea. Aspectos como idade, gênero ou raça acabam influenciando também. Perda das massas óssea e muscular representa aumento do risco de fraturas. Confira, no vídeo, uma análise interessante sobre esses riscos após diferentes tipos de cirurgia bariátrica. https://youtu.be/U1HRZ6NyG-0 Como é feito o acompanhamento do paciente bariátrico? Para evitar as complicações decorrentes da cirurgia bariátrica, deve ser feito um acompanhamento médico a longo prazo, em que são avaliadas possíveis alterações e deficiências metabólicas. No primeiro ano pós-cirurgia, é recomendado o acompanhamento no período de três em três meses. No segundo ano, o intervalo aumenta para seis meses. A frequência diminui com o passar do tempo, mas o acompanhamento deve permanecer durante toda a vida do paciente. A massa óssea é o principal monitoramento a ser feito. Densitometrias ósseas pré e pós-cirúrgicas são importantes para medir a perda óssea e avaliar o perfil de risco. A fim de melhorar a situação da perda óssea, é indicada a suplementação de cálcio e a reposição de vitamina D. Além disso, o médico deve orientar o paciente a praticar atividades físicas moderadas para fortalecer a musculatura. Reforçamos a importância do comprometimento médico para assistir regularmente o paciente após a cirurgia bariátrica. Os distúrbios metabólicos que aparecem depois do procedimento comprometem consideravelmente a qualidade de vida do paciente, e fazer esse controle periódico é fundamental. Gostou do conteúdo? Compartilhe com seus colegas médicos. E não deixe de acompanhar as outras aulas do curso de Medicina Diagnóstica do Sabin! Confira os temas: Tirando o máximo proveito das sorologiasDra. Luciana CamposInvestigação das linfonodomegaliasDra. Maura ColturatoInvestigação laboratorial de anemiaDra. Maria do Carmo FavarinO laboratório de imuno-hematologia na prática clínicaDra. Ana Teresa NeriMarcadores tumorais. O screening deve ser solicitado?Dr. Alex GaloroEndocrinopatias após Covid-19. Quando suspeitar e como investigar?Dra. 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